terça-feira, 5 de outubro de 2010

Marcas de um retirante

Trago marcas de uma vida ... vivida.
No rosto as marcas dos dias.
Do sol que fincou minha sombra no chão.
Da chuva que a borrou.
Que se confundiu entre minhas lágrimas.
Carrego nos braços a vontade de vencer.
Correr, chegar o mais longe possível.
Nos pés, calos de um caminho difícil.
Nas roupas, carrego poeira.
Cada grão de experiência que vivi.
Uma história que aprendi.
Um senhor gentil que conheci.
Lembro-me da mão estendida.
Ainda sinto o calor de sua acolhida.
Percorrer uma vida para viver.
Saber que me criei do barro.
Nas estradas, na casa pequena.
Uma criança miúda, sem chance na vida.
Um olhar cheio de esperança.
E grande vazio na barriga.
Barriga que ronca..
ronca...
ronca... acorda...
Ah, vida que passou.
A criança ja não é miúda.
A barriga já não ronca.
O espelho mostra que os olhos ainda trazem esperança.
Já cresci, venci, vivi.
Nada mais importa, se eu continuar sendo eu.
Se os olhos não brilharem, e o sorriso não se abrir,
ai então a estrada termina. A poeira baixa.
O sol não me cega. A fome não mata.
Afinal.. vivi, venci, morri.

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